A Frente Pela Vida, movimento formado por diversas entidades em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), publicou na última quarta-feira (25) uma “Carta ao Povo Brasileiro”, em resposta às mais de 170 mil mortes causadas pela Covid-19 e à negligência do Estado para conter o avanço da pandemia no país.
Entre os problemas apontados pela publicação, está a ausência de uma coordenação nacional para acompanhamento da Covid-19, o armazenamento de testes sem uso e os recursos financeiros retidos. “Essa desorientação propositada tem alimentado as mais altas taxas de mortalidade e letalidade da Covid-19 nas Américas, só comparáveis às dos Estados Unidos, Peru e Chile”, aponta o documento.
A publicação destaca ainda a maior vulnerabilidade de pessoas negras, pobres e trabalhadores de serviços essenciais e da informalidade, além de cobrar um planejamento para aplicação das vacinas. “Não existe plano para a futura vacinação, o que gera ansiedade e insegurança na população”.
A carta chama a atenção para a importância do SUS no enfrentamento dos desafios impostos pela pandemia e a necessidade de mais investimentos na área. “Os valores para 2021 são menores do que os de 2020 – menos 40 bilhões de reais! Sem orçamento suficiente, não poderá cumprir seu papel de cuidar e salvar vidas”.
O documento também é assinado pela Associação Brasileira de Economia da Saúde (Abres), que integra o movimento Frente pela Vida e as ações em defesa do SUS.
Leia, abaixo, a íntegra da carta.
CARTA AO POVO BRASILEIRO
Rio de Janeiro, 25 de novembro de 2020
São mais de 170 mil brasileiras e brasileiros mortos pela pandemia de Covid-19 desde março. No país, a Covid-19 mata mais pessoas negras, pobres e se dissemina rapidamente entre trabalhadores de serviços essenciais e informais, assim como entre populações vulnerabilizadas. A desigualdade social e a desvalorização da vida serviram de terreno fértil para o vírus.
Ações relevantes de enfrentamento, que deveriam ter sido lideradas pelo governo federal, foram sabotadas pelo presidente Jair Bolsonaro. A ausência de coordenação nacional, testes armazenados sem uso e recursos financeiros retidos são alguns exemplos. Essa desorientação propositada tem alimentado as mais altas taxas de mortalidade e letalidade da Covid-19 nas Américas, só comparáveis às dos Estados Unidos, Peru e Chile.
O presidente da república incentivou aglomerações, desarticulou medidas de proteção de populações vulneráveis, como os povos indígenas. Não existe plano para a futura vacinação, o que gera ansiedade e insegurança na população. Essas aberrações levaram à denúncia do governo Bolsonaro por crime contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional, em Haia, Holanda.
Diante disto, coube aos governadores, prefeitos e secretarias municipais de saúde atuarem para minimizar a tragédia que a nação vive. O SUS, nosso Sistema Único de Saúde, demonstrou sua importância para o enfrentamento dos desafios impostos pela pandemia.
O SUS é base essencial para saúde e bem-estar da população. No entanto, precisa de recursos humanos, materiais e financeiros para conter a circulação do novo coronavírus. Precisa de coordenação uniforme, nacional, articulada, e medidas de segurança sanitária. Precisa de orçamento adequado. Os valores para 2021 são menores do que os de 2020 – menos 40 bilhões de reais! Sem orçamento suficiente, não poderá cumprir seu papel de cuidar e salvar vidas.
É preciso investir na Atenção Primária, em especial na Estratégia Saúde da Família, na Vigilância em Saúde e nas Redes de Atenção para garantir medidas de prevenção, proteção, monitoramento de casos e seus contatos e assistência pelas equipes de saúde, atuando em suas comunidades. Ciência, tecnologia e inovação em saúde para laboratórios públicos, produção de equipamentos, fármacos, vacinas e material de proteção necessitam de investimento.
Responsabilidades pelas mortes e doenças evitáveis que ocorreram durante a pandemia devem ser apuradas. Ao mesmo tempo, reconhecer a grandeza do SUS, que salvou a vida de milhões de pessoas e poderá salvar ainda mais com estrutura e financiamento adequados.
A saúde do Brasil precisa do SUS. A economia do Brasil precisa do SUS. O povo brasileiro precisa do SUS forte, público, integral e universal. Defender o SUS é defender a vida. Junte-se a esta campanha.